O Supermercado não era comum nas décadas de 60 e 70 do século passado. As pessoas iam ao mercado comprar alimentos frescos todos os dias. As lojas desempenhavam o papel dos supermercados de hoje, vendendo diferentes tipos de mantimentos e até mesmo refeições ligeiras. Voltando à época em que o telefone fixo não era ainda muito comum, os visitantes podem ligar o rádio na loja "Tung Kei" para saberem as novidades do dia ou dar uma olhadela nos preços dos artigos nesse tempo. Como nem todas as casas de família tinham telefone, as pessoas geralmente enviavam cartas ou telegramas para comunicar à distância. Os visitantes podem ler as cartas da caixa de correio instalada à porta da "Tung Kei" ou ver um telegrama pendurado no seu interior. Quando era necessário efectuar uma chamada telefónica, lojas como a "Tung Kei" eram os locais mais convenientes para o fazer. Os visitantes podem usar o telefone da loja e consultar o caderno que está ao seu lado!
Antes da década de 60 do século passado, o serviço postal era o principal canal de comunicação à distância, pois o telefone não era ainda acessível à maioria dos residentes de Macau. O correio via superfície era utilizado para correspondência pessoal, oficial, comercial, envio de facturas, etc. O correio via aérea, o correio registado e os telegramas eram menos utilizados devido às suas elevadas tarifas.
No passado, nem todos tinham a oportunidade de receber uma educação formal. Assim, os "se seon lou" ou escrevedores de cartas eram muito populares. Serviçais de outras províncias, pessoas na sua ida ao mercado e outros residentes recorriam a estes escribas para as suas necessárias missivas. Era então comum, tanto em casas de família como em lojas, colocar caixas de correio metálicas, pintadas de vermelho, no exterior das portas para que os carteiros aí deixassem a correspondência. Na maioria das vezes, os carteiros estacionavam as suas bicicletas numa esquina e depois iam a pé, ao longo da rua, distribuir o correio.
De finais dos anos 60 até ao início dos anos 70, uma carta via superfície, de 20 gramas, requeria uma taxa de 10 centavos em selos. Caso excedesse este peso, eram cobrados 5 centavos por cada 20 gramas ou fracção adicional. O porte de uma carta via superfície para o Continente ou para Hong Kong era de 20 centavos, cobrando-se 10 centavos por excesso de peso. O correio registado cobrava mais 10 centavos à correspondência local e 30 centavos na correspondência para Hong Kong. Assim, a maioria da correspondência, tanto privada, como oficial, requerimentos e até mesmo contas, era enviada por correio ordinário.
Na década de 60, o telegrama era a maneira mais rápida de comunicação com o exterior, em caso de urgência, sendo, no entanto, bastante caro o seu envio. O remetente tinha de escrever uma mensagem curta no formulário de telegrama. Se escrevesse em chinês, o texto tinha de ser traduzido para um código telegráfico, antes de o operador de telégrafo poder enviar a mensagem. Da mesma forma, os telegramas, antes de serem entregues pelo carteiro ao receptor, tinham de ser descodificados para chinês.
Na década de 60, os residentes locais para enviarem telegramas tinham de se deslocar aos Serviços dos Correios, Telégrafos e Telefones (CTT), no Largo do Senado. O balcão de telégrafo operava 24 horas por dia, permitindo que as pessoas lá fossem a qualquer hora. Para enviar um telegrama, o remetente tinha de escrever a sua mensagem no formulário de telegrama. Caso a mensagem fosse em chinês, o remetente tinha de a traduzir para um código telegráfico, de acordo com uma tabela, ou pagar pelo serviço de tradução. Em seguida, a mensagem codificada era enviada pelo operador de telégrafo, por código Morse, para a autoridade postal e telegráfica de destino. Só então era entregue ao destinatário por um carteiro.
O telegrama era cobrado de acordo com o número de palavras (ou caracteres). Na década de 60, um telegrama enviado de Macau para a Taipa ou Coloane custava 36 centavos por cada 12 palavras. Os telegramas para o exterior eram obviamente mais caros. Por exemplo, para Portugal cobrava-se MOP3,65 por palavra. A fim de minimizar os custos, o remetente encurtava ao máximo a mensagem. Em 1964, foram enviados mais de 21.000 telegramas e foram recebidos mais de 34.000. O telegrama era, em grande medida, um complemento do correio postal, devido à sua entrega rápida.
Dos anos 60 a meados dos anos 70, o uso do telefone foi aumentando gradualmente. No entanto, era ainda caro e complicado requerer um telefone. Além disso, a rede de cabos subterrâneos não era ainda suficiente para proporcionar uma cobertura integral do território. Quando as pessoas queriam fazer chamadas telefónicas, geralmente usavam o telefone de um vizinho ou de uma loja das redondezas. Algumas pessoas juntavam-se para requerer um telefone e, então, uma das famílias actuava como operador, chamando as outras para responderem às chamadas telefónicas.
Em 1887, começou a funcionar em Macau o telefone que operava sob o princípio magnético. Em 1927, os Serviços de Correios assumiram a operação do serviço de telefone e de transmissão sem fios em Macau. Em 1929, a Central de Comutação Telefónica "Passo-a-Passo" da Siemens entrou em operação. A partir de então, os serviços telefónicos em Macau entraram numa nova fase de desenvolvimento. Em 1967, os telefones eram usados em departamentos governamentais, bancos, hospitais, estabelecimentos comerciais, etc. No entanto, o telefone em residências ainda não era muito comum. À data, as taxas trimestrais de assinatura por cada telefone residencial era de MOP40,50 e de MOP63,00 para os telefones comerciais. Para estabelecer uma comparação, o salário mensal de um professor primário era de MOP200,00 e uma tigela de canja simples ou um bolo frito custava 5 centavos nos vendedores ambulantes.
Em 1967, para uso de um telefone público cobrava-se 10 centavos por cada 5 minutos. Os telefones privados estavam limitados a 15 minutos por chamada. Os telefones usados por moradores, sociedades e escritórios estavam também limitados a 900 chamadas por mês, os restaurantes e hotéis a 1800, e os bancos a 3000 chamadas. O custo adicional por uso excedente ao limite determinado era de 10 centavos por chamada. Sendo cara a candidatura a um telefone, algumas pessoas juntavam-se para efectuar um pedido conjunto, instalando o aparelho na loja do piso térreo do edifício que habitavam. Quando as pessoas precisavam de usar o telefone, tinham de se deslocar à loja. A loja também tinha de chamar os destinatários, que viviam nos pisos superiores ao da loja, para virem atender o telefone. A partir de 1977, tal como vem impresso na lista telefónica desse ano, os assinantes de telefone foram autorizados a cobrar MOP0,30, por chamada, aos utilizadores.
Entre os anos 60 e 70, as chamadas telefónicas eram geralmente efectuadas para dentro da cidade. Quando as pessoas queriam usar o seu telefone para ligações internacionais, tinham de solicitar esse serviço nos CTT. Caso contrário, tinham de se dirigir pessoalmente aos CTT para efectuar a chamada através de um telefonista, ou marcar com antecedência a realização da chamada para o desejado destinatário, a uma hora específica. As chamadas internacionais eram muito caras naquela época. Só em casos de emergência as pessoas estavam dispostas a gastar tanto dinheiro em chamadas internacionais.
Na década de 60, fazer chamadas internacionais era um "acontecimento". Os telefonemas eram algo que se circunscrevia à cidade. Para efectuar uma chamada internacional, o utilizador tinha de fazer um depósito de garantia não inferior a MOP60,00. Após aprovação dos CTT para este tipo de "Conversações a Crédito", o utilizador recebia um número confidencial. Quando queria efectuar uma chamada internacional, só tinha de dizer ao telefonista o número e, em seguida, a linha era ligada. As pessoas que não tinham telefone em casa tinham de se dirigir aos CTT para fazer uma chamada de longa distância e pagá-la em dinheiro.
Nessa altura, as chamadas de longa distância tinham de ser feitas através de um telefonista. Para além de dar o número de telefone, quem pedia a chamada tinha também de especificar quem iria atender o telefone. Se o destinatário não tinha telefone, os funcionários da estação telefónica de destino tinham de o encontrar, de acordo com o nome e endereço fornecidos, e definir o horário para uma outra chamada. O preço da chamada de longa distância incluía a taxa de ligação e os custos das chamadas. Em 1967, as tarifas das chamadas de Macau para Hong Kong eram diferentes durante o dia e durante o período nocturno. A tarifa de chamada era de MOP4,00 a MOP6,00. Após 3 minutos, acrescia um custo adicional de MOP1,40 a MOP2,00 por minuto (menos de 1 minuto era considerado como 1 minuto). Uma chamada de longa distância para Guangzhou custava MOP6,00 para os primeiros 3 minutos, e para Taiwan MOP24,00. Na tabela de preços, a tarifa mais elevada para os 3 minutos era para Portugal, que custava MOP89,20!
Em Macau, a idade de ouro da radiodifusão foi entre os anos 50 e os anos 70. A Rádio Macau e a Rádio Vila Verde eram muito populares. Quer famílias, quer trabalhadores nas fábricas, gostavam de ouvir na rádio histórias, ópera chinesa, os êxitos populares em mandarim e cantonense, bem como os programas de músicas com dedicatória. Durante a época de tufões, as crianças e os pescadores prestavam mais a atenção às actualizações das notícias meteorológicas. Até meados da década de 60, um aparelho de rádio instalado em lojas e cafés pagava uma taxa anual de MOP36,40 de licença, mas a taxa para o uso doméstico era de MOP18,20.
Na década de 60, a população de Macau era apenas de cerca de 200.000 pessoas. Macau era uma cidade pequena e tranquila, sem prédios altos e sem a agitação dos turistas. Esta é uma "Rua de Macau", tal como recordam antigos residentes locais. Embora já houvesse autocarros, táxis e riquexós, as pessoas normalmente iam a pé para o trabalho e para a escola.
Macau está localizado no Mar do Sul da China, mar de abundantes recursos, sendo a pesca uma das actividades mais tradicionais de Macau. As indústrias transformadoras eram principalmente de fogo-de-artifício, incenso e fósforos. O Porto Interior de hoje era, noutros tempos, o principal porto para o exterior. A área circundante era o centro da cidade e a zona mais movimentada de Macau, com muitas lojas, bancos, cinemas, restaurantes, casas de penhor, casinos e vendedores ambulantes. Como lembranças, os turistas de Hong Kong compravam bolos de amêndoa e caranguejos.
Ainda me lembro de uma mercearia junto ao distrito de ouro. Devido à localização privilegiada e ao intenso fluxo de pessoas, o negócio era muito bom. As pessoas do bairro passavam por lá para fazer as suas compras ou apenas para coscuvilhar. Para maior conveniência e de forma a atrair mais clientes, o proprietário da loja, juntamente com alguns vizinhos, instalou um telefone. Ter um telefone naquela altura era algo de extraordinário, já que não eram muitas as pessoas que alguma vez tinham usado o telefone. As pessoas escreviam cartas para as suas comunicações à distância. O telegrama era só utilizado em situações de emergência. A caixa de correio vermelha à porta da loja estava sempre a abarrotar com cartas. Sempre que o telefone tocava, o proprietário da loja chamava em voz alta o destinatário, ou contava com a ajuda dos vizinhos para o encontrar. Algumas pessoas ajudavam a anotar num bloco as mensagens deixadas, quando o destinatário do telefonema não estava presente.
Sobre a CMM
Contactos
Outros
Links Úteis
Número de Visitantes:
Data da última actualização: 10/03/2025